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Sim, isto é mais um blog de viagens (fu haters). Sem compromisso nem regularidade definida, vou relatar um pouco do que está a ser a minha experiência na Guiné-Bissau.
Como é que é, pessoal? Esse frio aí em Portugal? Aqui estão uns escassos 30º.
Metendo o nojo de parte, vou agora falar do minha partida de Bissau para Cacine.
Durante a minha estadia em Bissau, tive oportunidade de almoçar com o José Valberto, o responsável pelo projecto em Cacine. Ele veio à cidade levar uma voluntária brasileira ao aeroporto e tratar de mantimentos e assuntos variados que não podem ser tratados em Cacine.
Deixem-me contextualizar: eu aceitei ajudar num projecto durante três meses da minha vida, confiando que iria ter condições básicas...e nunca tinha falado com o José pessoalmente. O risco de isto dar raia era muito alto. O meu objectivo naquele almoço era perceber a veracidade do que me foi dado a entender por escrito e obter o máximo de informação possível para me poder preparar, psicológica e sobretudo logisticamente, para a minha estadia em Cacine.
A primeira impressão foi boa, o José pareceu-me bastante contente em ter voluntários a ajudar no projecto e pareceu-me bastante preocupado em deixar os voluntários à-vontade, referindo que é importante cada um ter o seu espaço para ter momentos do dia de paz, sossego e momentos de passeio também. Parte dessa tarde foi também passada a acompanhar o José na compra de várias coisas. Fomos à Feira do Cooperante, um mercado de artesanato onde percebi que é bom ir com o José a sítios. Isto porque ele já conhece algumas pessoas na cidade que já não lhe fazem preços de branco. No fim combinámos que a nossa descida para Cacine havia de ser na sexta-feira seguinte.
Chegado esse dia eu e os meu mantimentos (maioritariamente latas de atum) entrámos no jipe que me havia de levar até Cacine, por volta das 9h. Durante a minha estadia ouvi várias versões do tempo que demora a viagem, houve quem dissesse que eram 8h, houve até quem disse que eram apenas umas meras 3h. Cheguei a Cacine por volta das 19h (com paragens, é certo). Por um lado foi uma viagem bem longa e uma grande seca. Por outro, por ser a primeira vez que estava a fazer aquele caminho (na sua maioria com paisagens muito fixes), por termos parado nalguns pontos estratégicos (para almoçar a para fazer mais algumas compras) e por estar a viagem toda a falar com o José sobre vários assuntos, até se passou bem.
A paragem para almoçar talvez seja a mais relevante/interessante para eu descrever. Almoçámos perto de uma terra chamada Mampata. É um sítio muito bonito, com um rio, muita vegetação à volta e tal. A experiência no restaurante foi caricata.
Então, primeiro chegámos lá, já tarde e a más horas, por volta das 14h (antes só tinha comido o pequeno-almoço, por volta das 9h, imaginem a fome do menino). O sítio era um antigo quartel que tinha sido recuperado por um português que não estava na Guiné-Bissau nesse momento. O espaço era muito agradável, com vegetação e umas espreguiçadeiras com vista para o rio e os animais andavam à solta (galinhas e cabras). A senhora que nos atendeu disse que só tinham cafriela (frango com um molho acompanhado de arroz e batatas)...perfeito. Soou-me bem. Dirigi-me à casa-de-banho e quando voltei o José explicou-me, rindo, que embora houvesse cafriela, disseram-lhe que ainda seria necessário matar a galinha para fazer o prato !!!!!!! (bem que tinha ouvido as galinhas a fazer demasiado barulho enquanto estava a urinar). O segundo pensamento, que me passou pela cabeça, foi "isto vai demorar, vou morrer aqui".
Mas não morri, fui passear, tirei umas fotos, pensei que se tivesse que matar toda a carne que consumo provavelmente seria vegetariano (nesse sentido sou um carnívoro cobarde, assumo a hipócrisia) e, quando voltei, o almoço estava pronto. Podia ter tido a humanidade de me sentir mal pela galinha que tinha visto a sua vida encurtada para nos alimentar, mas não tive. A fome é um instinto primário, a humanidade não tanto.
Deixo aqui uma palavra de apreço: Descansa em paz, galinha. Se te servir de consolo, estavas deliciosa. As minhas orações e pensamentos estão com a tua família, que também tive a oportunidade de conhecer e que acho que se vão reunir a ti muito em breve. Não desistas.
Outra coisa que quero referir em relação à viagem é a qualidade das estradas...péssima. Até Quebo, estrada em alcatrão mas com muitos buracos (causados pela época das chuvas), depois de Quebo, terra batida com (ainda mais) buracos e poucos sítios com terreno plano. Só é possível mesmo com um jipe.
Já nessa estrada de terra batida, o cenário começou a adensar-se. Muita vegetação e moranças (casas de habitantes daquelas terras). Uma coisa que me pareceu muito estranho quando comparado com viagens de carro que fiz em Portugal ou noutro sítio qualquer da europa: é difícil andar 100m sem ver alguém. Pessoas a andar a pé ou de mota, a carregar coisas, a fazer a sua vida e casas à beira da estrada. Foi assim o último trecho da viagem.
Quando cheguei a Cacine, conheci a minha casa, a que haveria de ser durante os seguintes meses. Se ainda me apetecer escrever neste blog, proximamente vou falar sobre a minha habitação e do meu dia-a-dia aqui. Agora vou deixar-vos, 6 amigos, porque este post já ficou grande pa cacete.