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Sim, isto é mais um blog de viagens (fu haters). Sem compromisso nem regularidade definida, vou relatar um pouco do que está a ser a minha experiência na Guiné-Bissau.
Ora bem, neste post vou falar de como se alimenta um Jovem Português na Guiné-Bissau. Como me considero "bom garfo", tenho tido uma boa experiência por cá. Vou dividir o post em duas partes: o almoço e o jantar. Isto porque o almoço é partilhado e assegurado pela malta daqui do "condomínio" e o jantar é da minha responsabilidade. Um texto com secções também motiva um bocadinho mais à leitura, principalmente se o leitor for meu amigo e, fatidicamente, se veja obrigado a ler este blog.
O Almoço
"Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és". Coloquei a frase entre aspas só para ser mais credível porque, na verdade, fui eu que inventei agora. De qualquer maneira, se fosse verdade, os guineenses seriam arroz. É verdade, aqui come-se arroz todas as refeições e em grandes quantidades (daí o título do post). O arroz também não é igual ao que eu estou habituado. É mais seco, mas bom. Os pratos também são, 90% das vezes, acompanhados por um caldo/molho qualquer e, como estou numa zona que vive muito da pesca, peixe peixe e peixe. Fica a faltar, na minha dieta, os vegetais. Ah e carne. Isto de comer carne, em média, menos de uma vez por semana faz-me comichão à alma.
Pelo que disse neste parágrafo acima, parece que não gosto da comida aqui. Não é verdade. Apesar de não comer tão equilibradamente como me alimento no conforto do meu Portugal, a comida faz parte da experiência de estar numa cultura diferente e tem as suas coisas boas. Tenho experimentado comer coisas que nunca tinha comido, pelo menos cozinhados da forma que se cozinha aqui. Destaco o meu prato preferido: caldo de mancarra. Mancarra é a palavra em crioulo para amendoim. É um molho que pode acompanhar peixe ou carne e o indespensável arroz. É delicioso. Destaco, ainda, a palha de madioca que é a folha da mandioca, mancarra e peixe, tudo triturado (acomapnhado de arroz, claro) e o caldo de chabéu que é o fruto da palmeira e que é misturado com peixe e...adivinhem...arroz. No geral, a comida tem muito sabor e é pesada. Eu gosto.
O Jantar
A minha estratégia para não ter que me preocupar com lanche e para não ter que comer tanto ao jantar, é encher o prato ao almoço...e repetir. Acho que vou chegar a Portugal mais gordo, o que não deixa de ser estranho e inesperado.
Gosto de cozinhar, mas aqui vejo-me obrigado a fazer comida de estudante. Por duas razões 1) não tenho frigorífico 2) não existem supermercados que, em qualquer altura do ano, posso escolher qualquer coisa para cozinhar, quase. Aqui no mato, o que há é o que vais comer.
De maneiras que enlatados, arroz e massa tem sido a minha roda dos alimentos. Nas pequenas lojas que há por aqui em Cacine compro bastante latas de sardinha e corn beef. Sardinha enlatada é algo que só conhecia de nome antes de vir para cá. Não é tão mau como soa. Em relação ao corn beef, que também nunca tinha comido antes, não o consigo descrever de outra maneira que não esta: é o interior da salsicha em lata. Portanto, não é nada mau. Algumas latas de corn beef têm o símbolo do halal, que é apenas uma formalidade visto que não deve haver carne nenhuma no conteúdo das latas. De qualquer maneira, talvez vá para o céu muçulmano quando lerpar. Já valeu a pena, a viagem.
Curiosamente, viver sem frigorífico não é tão difícil assim. Talvez por causa da quantide de químicos que a comida tem, as coisas aguentam mais do que parecem. Acho que usava o frigorífico desnecessariamente em Portugal.
Calma, mãe, não estou a comer assim tão mal. Acho que a alimentação foi o aspecto que me preparei melhor na minha pré-viagem. Pelo menos, foi o que perdi mais tempo a pensar. Além do que trouxe comigo de Portugal, o Valberto já foi duas vezes a Bissau desde que eu estou cá e eu peço-lhe para trazer umas cenas diferentes. Sabiam que existe iogurte grego que não precisa de ir ao frigorífico?
Um aparte picante
(Menti. Afinal vão ser três secções).
Dedico uma secção à malagueta. Em Portugal, não costumo comer picante, simplesmente não foi um hábito que me foi incutido enquanto crescia. Aqui na Guiné, principalmente aqui no sul que é bem representado pela etnia Nalú, todas as refeições têm de incluir malagueta. É impressionante ver a quantidade de malagueta que crianças com apenas 3 anos de idade comem. É de fazer chocar um mexicano.
Segundo o que tenho visto nalgumas casas, a malagueta já vem misturada na comida. Aqui em casa, a malagueta é posta à parte, para que quem quiser possa pôr a quantidade que quer na sua comida. Suponho que seja uma proteção que o Valberto criou para os estrangeiros que não estão habituados. A pouco a pouco e por curiosidade, comecei a experimentar pôr um bocado de malagueta na comida. Normalmente, vêm num frasco com vinagre, cebola e alho. A verdade é que é excelente e combina muito bem com a comida. Não tolero uma grande quantidade de malagueta ainda, mas gosto bastante. Desconfio que este hábito perdure quando voltar a Portugal.
Está feito. Se tivesse que nomear o que sinto mais falta nesta minha viagem é da comida em Portugal. Lamento, 19 amigos. Como amigo, sou aquilo que como aqui na Guiné: previsível. Termino mais um post desnecessariamente grande pa cacete. É muito isto.