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Olá olá. Que tal esse país desenvolvido?

Quero dedicar este post a falar do Guiné-Bissau, no geral, e do povo guineense, em particular. Obviamente que vai ser um post incompleto porque todos os dias descubro algo novo sobre este povo e porque de certeza que vou-me esquecer de coisas que até seriam interessantes de mencionar. Devo desde já avisar, também, que este post é capaz de não ser relevante para quem não quer saber da Guiné-Bissau. Não planeio contar a ocasional história caricata, como aquelas que envolvem galinhas mártires ou aranhas sanguinárias. Aconselho a quem não gostar deste post a escrever no meu livro de reclamações (só aceito reclamações em Crioulo). A ideia neste post é fazer a caminha para, posteriormente, falar de temas mais complexos, tipo problemas da sociedade da Guiné-Bissau, segundo a opinião de um jovem português. Para isso, é importante haver um contexto.

 

Eu normalmente vou escrevendo o post e por vezes tenho ideias sobre como organizar as ideias, mas ainda não sei como vou organizar isto porque há muitos aspectos diferentes que posso descrever. Se eu fosse uma pessoa decente, pensava primeiro e escrevia depois. Mas se quiserem um blog bem escrito, arranjem outro amigo hipster.

 

*pausa de 15 minutos, para pensar em como dividir isto*

 

*passaram 3 dias, desde que escrevi esta primeira parte. Bom commitment, campeão*

 

O Clima

 

Não quero meter aqui muito nojo, porque sei que a temperatura aqui é um bocado invejável, quando comparada à de Portugal nesta altura do ano. Quero apenas dizer que o clima é tropical e que, portanto, existe a época seca e a época das chuvas. A época das chuvas é de Maio até Novembro e acho que aqui em Cacine as estradas ficam ainda piores e que a vida no geral é mais díficil. Não fiz de propósito, mas vim na melhor altura do ano, neste aspecto. Ainda não há o calor abrasador que começa a meio de Abril e a época da chuva começa na última metade de Maio. Por essa altura já vou estar a voltar para o início do bom tempo de Portugal. Nada mau.

 

A História da Guiné-Bissau

 

Bom, todos nós sabemos que a Guiné-Bissau já foi a Guiné Portuguesa. A História da Guiné-Bissau começa com a independência face a esses colonos nojentos, em 1973 (acho eu, não sou a wikipedia). Já agora, tenho estado a brincar. Os guineenses não guardam rancor em relação aos portugueses.

Os heróis nacionais e alguns dos feriados que a Guiné-Bissau tem são, portanto, relativos a esse período. A figura mais importante da luta pela independência foi o Amílcar Cabral (bom nome, já agora), que morreu antes de ver a Guiné indepedente. Em muitos sítios diz que foram agentes do Salazar que o mataram, em Conacri (capital da Guiné-Conacri), mas ao que parece foi uma facção do partido, a que o Amílcar Cabral fazia parte, que não estava a gostar de algumas das ideias que ele tinha.

 

(Já agora, vamos esclarecer aqui uma coisa. Eu escrevo sempre Guiné-Bissau por preciosismo. Não escrevo só Guiné porque existe também a Guiné-Conacri (vizinha da Guiné-Bissau) e a Guiné Equatorial. A partir de agora se eu escrever Guiné vocês percebem, certo? Óptimo, porque isto de escrever "-Bissau" cansa e gasta as teclas).

 

A Política

 

Há muita história em relação à política na Guiné-Bissau e está muita coisa a acontecer neste momento. Tudo o que eu sei da política da Guiné foi-me contado, portanto posso estar a dizer coisas erradas ou posso estar influenciado pela parcialidade de quem me contou, apesar de tentar manter-me o mais distante possível de uma opinião. Não acho que tenha tempo para saber o suficiente e inclinar-me para um lado. Este blog é apenas a minha percepção das coisas. Querem factos e objectividade, estão no sítio errado.

No entanto, se chegar a perceber o suficiente sobre a situação política, gostaria de escrever neste blog sobre isso. É incrível os truques e voltas que aqui acontecem e que não chegam aos nossos noticiários.

Então, a Guiné-Bissau faz parte de um grupo de países chamado Comunidade Económica dos Estados da África Ociental (CEDEAO). O objectivo desse grupo é desenvolver a região e resolver conflitos que possam existir (e existem muitos). Com alguns desses países, a Guiné-Bissau partilha a moeda que já referi, o XOF, coloquialmente chamado franco (ou "fran" em Crioulo. Estou fortíssimo). É relevante mencionar que a Guiné faz parte desta comunidade por causa da parte da resolução de conflitos.

Neste momento, aqui na Guiné, a situação política está instável. Existe uma luta entre o partido que impulsionou a independência e que o Amílcar criou: o PAIGC. Este partido, ao qual pertencia o actual Presidente da República <inserir nome do presidente, não me apetece ir ver>, teve uma guerra qualquer interna da qual resultou a expulsão do Presidente e de 15 outros deputados da assembleia. 

A CEDEAO, como mediadora, criou o tratado de Conacri que obriga o Presidente a escolher um primeiro-ministro que seja consensual entre todos. Acho que os problemas que há neste momento é porque o Presidente está a escolher primeiros-ministros que não estão no acordo, criando problemas. Por esta razão, nos 3 anos de mandato do Presidente, acho que já houve 5 primeiros-ministros.

 

A Economia

Como em qualquer sociedade, se a política é instável, a economia  não pode crescer. Como a situação não é estável desde a independência, o país tem uma economia muito fraca. Claro que isto, na prática, se traduz em pobreza. Eu devo dizer que antes de vir para cá e durante toda a minha vida, imaginava a Guiné-Bissau como sendo um país menos desenvolvido que Portugal mas que também não era uma Serra Leoa. Quando cheguei cá percebi que a realidade é dura. Talvez em posts posteriores consiga formular a minha percepção e opinião sobre esta realidade.

A economia vai dependendo maioritarimente do caju, que eu apenas conheço de Portugal como sendo um fruto seco delicioso, usado para várias coisas (na verdade, não sei bem para que é usado). Muita gente consegue bom dinheiro nessa altura chegando mesmo a haver pessoas de países vizinhos a vir trabalhar na apanha do caju. A altura do caju é durante a época das chuvas. Infelizmente para mim, a época das frutas boas, e que vocês podem imaginar que existem num país tropical, também só estão boas nessa altura.

 

("Economia" soa muito bem num texto em que estou a descrever o país, até parece que percebo da coisa. A verdade é que não sei muito mais. Sei que já foram grandes exportadores de arroz, mas houve um presidente que tinha empresa de importação de arroz. Portanto, deixaram de o ser. Coisas que acontecem na Guiné).

 

As Etnias

 

Na Guiné as etnias ainda têm muita influência na sociedade. Cada guineense pertence a uma etnia e cada etnia tem os seus costumes e tradições. Muitas vezes existem conflitos em tabancas que envolvem duas etnias que não se dão bem.

Existem muitas etnias pelo país. Aqui em Cacine são maioritariamente Nalus e Balantas. Ainda estou a descobrir um pouco em relação a estas etnias, mas parece-me que há tradições bastante complicadas como os casamentos combinados entre famílias. Nem sempre a diferença de idades é tida em conta na decisão, é comum haver raparigas menores a casar com homens mais velhos. É também comum um homem ter mais que uma mulher e, consequentemente, filhos infinitos.

No geral, vejo que o machismo está na base para muitas decisões tomadas e as mulheres devem ter uma vida (ainda mais) difícil por aqui. Fazia falta aquele tipo de feministas que são muito interventivas e que se ofendem com facilidade...ah esperem, o facebook não é muito usado aqui

Por outro lado, também há coisas bonitas como as danças de cada etnia e o vestuário. Há umas semanas, tive oportunidade de ver um número de dança de Balantas, que têm o seu próprio estilo. Foi incrível. Sentido rítmico está nos genes desta malta.

 

A Religião

 

Outra coisa que, antes de vir, não fazia ideia em relação à Guiné é que a maior parte são muçulmanos. Também existem alguns Católicos e Envangélicos, muito influenciados pela aposta de missionários destas duas correntes, desde há muitos anos atrás. No entanto, parece-me que a cena de um homem ter várias mulheres não impede de este ser católico ou envangélico (vá-se lá saber).

Embora exista a religião que cada um tem, a maioria dos guineenses acredita no animismo. Basicamente é a crença nos espíritos e coisas que tais. Tem algumas coisas boas, como o respeito pela natureza (ou medo), e coisas más como as feitiçarias e macumbas. A ver se saio daqui sem que me seja feita uma. As macumbas, pelo que percebi, passam um bocado por pessoas que começam a fazer tudo por outra e ficam meio tã-tãs, não é bem a cena da boneca de vodoo. A malta com quem convivo acredita nessas coisas, mas eu acho que vou chegar ao fim da viagem e vou continuar a não acreditar, fiquem tranquilos.

 

Tenho que fazer notar que a sociedade guineense está a mudar as suas mentalidades e muitas das coisas que disse aqui não são verdade para todos os guineenses. Mas, de facto, é tudo muito diferente do que estou acustomado. Dá que pensar e pensar é bom. Pensem nisso, 10 amigos. Pensem também em como gostariam de ter um amigo que não escrevesse posts grandes pa cacete. É muito isto.

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publicado às 20:52


2 comentários

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De Anónimo a 02.03.2018 às 11:52

Boas Pedro, sou um dos desconhecidos que achou o teu blog por acaso quando andava a pesquisar mais sobre viver na guiné.

Estou a pensar fazer algo parecido com o que relatas cá, pareces estar a viver uma boa experiência.

Também noto que começaste com 2 amigos e já vais nos 10, nada mau, se não te servir para mas nada, ganhaste 8 amigos.

Abraço e boa sorte por aí.
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De Pedro do Vale a 04.03.2018 às 23:30

Caro jovem,

Se estás interessado em fazer uma experiência na Guiné-Bissau, continua a acompanhar este blog porque, aqui e ali, vais encontrar informações úteis (estou a pensar fazer um post sobre a pré-viagem, por exemplo). Também aconselho, caso estejas seriamente a ponderar vir para cá, que me envies um mail (pedroddvale@gmail.com) para que possamos falar melhor. Nesse mail, menciona quanto tempo gostarias de passar cá e menciona também o teu percurso académico/profissional.

O teu interesse é um bom primeiro passo para uma aventura única, potencialmente boa para a tua vida. Visto que até agora ainda não faleci e como até estou a gostar disto, recomendo que a faças.

Obrigado pelo teu contacto.

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