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Sim, isto é mais um blog de viagens (fu haters). Sem compromisso nem regularidade definida, vou relatar um pouco do que está a ser a minha experiência na Guiné-Bissau.
"Olá, sou a Bé. Tenho 20 anos, vivo em Cascais e sempre quis ajudar quem mais precisa. Decidi ir para África e estou a amar conhecer este povo maravilhoso. As pessoas são lindas, o país é lindo, tudo é belo."
Cala-te, Bé (ou lá como te chamas).
Pragmático
Até agora, neste blog, o leitor atento pode pode dizer que este Jovem Português na Guiné-Bissau só faz posts a gozar, com um pico de arrogância. "Ele está a gostar da experiência, sequer?" Onde estão as fotos com crianças carenciadas à volta? Onde estão as frases "estou a amar este povo"?
A verdade é que esta foi a maneira que eu escolhi para descrever a minha experiência, uma personagem, digamos. Não é personagem no sentido que não sou eu, mas claro que estou a omitir algumas coisas, mostrando apenas uma face. Sou muito mais lamechas no meu diário, que guardo ao pé do livro de reclamações.
Tento ser, acima de tudo, pragmático. Sou pragmático no sentido em que sei que nem tudo é belo, este povo, como sociedade, não é perfeito. Pragmático também no sentido em que vim aqui para a Guiné-Bissau para fazer uma experiência benéfica para mim. Se no processo conseguir beneficiar a vida de outras pessoas, é bónus. Isto porque não me iludo ao pensar que sou importante o suficiente para "mudar o mundo" com esta experiência.
Um dos aspectos que debati comigo mesmo, quando pensei em fazer voluntariado foi "Por quanto tempo? Praí 6 meses", pensei. Ok, não vou fazer tanto tempo quando pensava na altura, mas cedo percebi que não queria fazer uma experiência curta (menos de um mês). É fácil numa experiência de um mês ser a Bé, ou seja, viver numa ilusão de que tudo é perfeito. Eu quis fazer uma experiência de mais do que um mês por duas razões 1) queria conhecer a realidade, com tudo o que tem de bom e de mau, ou seja, entrar na rotina 2) não queria ficar com a sensação de "saber a pouco". E é o que está a acontecer. Durante a minha estadia, já tive momentos em que queria estar em Portugal. Esses momentos fazem-me perceber que já entrei na rotina. É certo que é durante poucos meses esta é a minha vida quotidiana.
Outra coisa que me faz um jovem que pensa que é hipster e fora do esperado, é que planeio que esta experiência seja benéfica para mim a longo prazo. Não vim para aqui tendo deixado uma vida desinteressante em Portugal, fugindo a problemas. Antes tinha uma vida boa, estou a ter uma vida boa e diferente agora e, quando voltar a Portugal, planeio ter uma vida boa também. Esta experiência não é uma coisa isolada que vai ser o ponto alto da minha vida (espero eu).
Tudo isto faz com que tenha uma frieza acima da média, sim, mas não quer dizer que sou indiferente à experiência que estou a fazer. A minha vida não muda por haver Bés, por isso não julgo quem tenha essa atitude. Eu simplesmente, não quero ser a Bé, apesar da atitude dela ter aspectos bons. Por exemplo, é importante entrar na rotina, mas também é importante policiar-me para que a minha rotina não se torne aborrecida. Para isso, faço sempre por conviver com o pessoal daqui ou por passear por aqui perto.
Voluntário
Posto isto, vou gastar o resto do post a provar que, apesar de ser assim esquisito, estou a fazer uma experiência incrível. Chamemos-lhe "o momento Bé".
Sou um previligiado. Isto de fazer voluntariado é das melhores ideias que já tive. Fazer férias é engraçado mas é caro. Fazer voluntariado é bom porque consegues, com menos dinheiro, conhecer um país da melhor maneira: através dos nativos desse país. E eu não fazia ideia que este país era tão bonito. Tenho tido hipótese de passear, nalgumas ocasiões, e sei que, se não fosse a fazer voluntariado, não teria hipótese de visitar esses sítios. Também tenho tido hipótese de saborear os produtos desta terra (alguns que nem nunca tinha ouvido falar) e, como estou num meio rural, existem em abundância. Além disso, estou a ter a hipótese de conhecer pessoas que, por terem uma cultura diferente da minha, pensam de maneira diferente também. Principalmente no início, é díficil os dias serem aborrecidos. Resumindo, com a data de regresso mais próxima que a data de chegada, estou a sentir-me muito bem por cá.
Claro que isto não quer dizer tudo sejam rosas, a maioria dos meus dias é passado a dar aulas ou a preparar aulas, algo que dá mais trabalho do que pensava (respect para os professores que têm que fazer isto durante mais tempo).
Não sei se este é o meu post mais estranho, ao menos continua a ser grande pa cacete que é para não destoar muito. É mau ter esta dúvida porque quer dizer que há outros que talvez também sejam. Mas enfim. Mais um post neste país belo e este povo maravilhoso. "Já chega, Bé. Os meus 21 amigos não têm que te...ler". É muito isto.